De vez em quando a gente precisa de um livro que nos faça refletir certo ? E é basicamente isso que Viver nos trás, mas acho que tenho que explicar um pouco essa questão de reflexão né ?

Viver nos apresenta um artista chines cuja responsabilidade é ouvir, aprender e juntar musicas, historias, lendas e transformar isso numa espécie de compendio cultural, dito isso em uma de suas jornadas ele se depara com  Xu Fugui, um senhor simples que tem muita historia para contar e quem sabe nos ensinar a viver e assim ele o faz.
Fugui nos conta sua historia desde que era um jovem pretencioso, sem senso de fidelidade, que achava que tudo cairia fácil para ele por que o pai detinha uma certa e boa porção de propriedade, até que ele se meteu com jogatina e basicamente ele se tornou responsável pela desonra da família Xu. Casado, com uma filha pequena e mulher grávida do segundo filho, Fugui não tem opção a não ser passar a prover o sustento da própria casa, coisa que até os 20 anos ele não fazia ideia de como. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e se você entendeu a referencia , vai perceber que mais nada de bom aconteceu com nosso protagonista a partir dai.
Entre diversas situações delicadas e não imaginadas por ele, nosso humilde fazendeiro, vive a transição da China para o comunismo e a historia dele evolui junto com a situação do país, quando suas terras são tomadas e dividas, quando so ricos são punidos apenas por serem ricos tornando a cada dia a sobrevivência de todos mais sofrida. Temos no final uma verdadeira lição de resiliência e como a gente pode me meio a todas as dificuldades tentar encontrar uma forma de continuar, mesmo que seja através de uma “mentira para ele mesmo”.

Viver foi publicado na China em 1993 em uma espécie de jornal em Shangai, o Harvest, para gente só veio chegar em 2008 pela Companhia das Letras, e eu dou graças a deus por esse achado maravilhoso de 216 paginas e é justamente por ser do Oriente que este livro também foi lido para o desafio DLL2021 do Livreando, como Livro Escrito Por Autor Asiático. A composição dessa obra também tem pequenas características curiosas, primeiro é o fato de na realidade ser o artista despreocupado quem se interessa em trazer para nós essa historia então temos uma narração alternada entre 1 e 3 pessoas e só por trazer um formato diferenciado já ganha pontos comigo.
Todas essa arco dramático que vemos é composto de ação, dialogo, MUITOS REVÉS, com toda uma aparência de flashback, mas não sei se chegaria a tanto. O tempo narrativo eu jogaria como misto pois existe um grande espaço de tempo entre a situação de Fugui contando e a historia de de quando ela se desenrolou, entendo que mistura tanto o presente quando o passado, tudo num ambiente totalmente realista da China e ouso classificar essa obra como Ficção Histórica o que me faz observar que dificilmente um livro de drama ou relacionado a nossa historia vai se encaixar em algum dos padrões de enredos mais usados, afinal creio que a própria realidade histórica seja o padrão de enredo uma vez que deve passar por ela para ter a cena validada

Mas afinal, será que vale a pena ler Viver ? A resposta é SIM! A mensagem que Yu Hua nos trás aqui é simples e direta e é fato que a maioria de nós provavelmente não conseguiríamos lidar com tudo que ele lidou. A reflexão contida nessa obra é extremamente pertinente além de ser rápido e fluido na escrita, mas não é para novatos! Então caro leitor, se estiver iniciando o mundo literário por agora.. pode ser que ache um livro não tão bom assim.. mas eu sempre vou ser a favor pelo menos da tentativa e como Viver me emocionou vai ganhar 9 estrelinhas.

⭐⭐⭐⭐⭐⭐⭐⭐⭐